domingo, 22 de dezembro de 2013

Topless e a liberdade individual

Mais um 21 de dezembro, dia em que se iniciou mais um verão... E se não fosse o evento marcado para a praia de Ipanema, teria sido o 1º dia do verão e só mais um dia normal.
Mas que evento foi esse? Foi o Toplessaço, evento marcado pelo Facebook, que contava com cerca de 9 mil confirmações de comparecimento. Porém, não chegou a mais do que algumas poucas dezenas de pessoas, incluindo homens que aderiram a proposta, atraindo mais curiosos do que manifestantes.
Homens que aderiram ao Toplessaço.
Foto: Tasso Marcelo/AFP
Mas que proposta era essa? Na descrição da página no Facebook constava a seguinte descrição:
"Rio de Janeiro, Brasil
Só em uma cidade machista e violenta como a que vivemos o topless pode ser caso de polícia!
Pelo fim da criminalização dos nossos corpos, das formas femininas.
O atentado ao pudor nas praias, são muitos outros. Pela naturalização dos corpos!
Pelo fim da repressão policial e governamental dos nossos corpos...
Vamos tirar o biquini!!"
Segundo algumas das reportagens que li, a motivação para o protesto foi a repressão policial sofrida pela atriz Cristina Flores, que em novembro posava sem blusa para fotos para posterior divulgação da peça "Cosmocartas", que seria presa e autuada por "ato obsceno", caso não vestisse a blusa. Em outra reportagem a origem do toplessaço teria ligação a "Marcha das Vadias", ocorrida em julho, onde Ana Rios e Bruna Oliveira, perceberam que pessoas falavam coisas horríveis e reagiam de forma violenta ao presenciarem mulheres fazendo topless em tal evento.
Resumindo, a ideia original do protesto era a de reivindicar o direito para as mulheres poderem fazer topless sem serem incomodadas, seja pela polícia devido a questão do atentado ao pudor ou pelo machismo das pessoas que presenciam tal ato.

Repercussão e opiniões 
Como foi reportado por vários meios, o Toplessaço juntou mais curiosos do que manifestantes. Bastava uma manifestante chegar e tirar a blusa que uma pequena multidão se aglomerava ao redor.
Ana Paula Nogueira e todos de olho no direito ao topless.
Foto: Ariel Subirá/Estadão Conteúdo
Em uma das reportagens consta a opinião de Carolina Jovino, 18 anos, estudante de Ciências Sociais, que escreveu no corpo a palavra liberdade, e declarou o seguinte:
- Não tenho como esconder uma parte do meu corpo. Quero que as pessoas me digam por que o meu peito é mais chamativo do que os outros. Estou me sentindo reprimida. Ninguém anda pela praia perseguida por 50 pessoas.
Não vi fotos da Carolina, mas talvez ela tenha chamado a atenção dos homens pela idade ou pelo corpo que deseja mostrar em público, mas sem que ninguém fique olhando muito para ela ou que a  persigam para dar mais uma espiadinha em seus seios desnudos.
Lembro de quando era criança, e isso faz um certo tempo, ao passear pela praia de Copacabana, ver duas senhoras, já com uma certa idade, fazendo topless. E sabe como é criança né? Olhei e fiquei assustado por ver mulheres desconhecidas de seios de fora em público.
Mas com a idade aquilo não seria tão emblemático, afinal, como carioca, o que mais vejo são corpos femininos com pedaços de pano, que não deveriam ser chamados de roupa, pela rua devido ao calor ou semi-nus, alguns totalmente nus mesmo, no Carnaval.
Vejam bem, não estou falando que as mulheres devem usar burca, ou que deveriam usar roupas maiores do que aqueles shortinhos e tops que as vezes só estão lá para constar que não podem andar nuas pelas ruas. As mulheres tem todo o direito de se vestirem como desejarem, ou no caso do topless não vestirem. Mas reclamar que as pessoas olham para elas, me parece meio contraditório, afinal tem homem que quase quebram o pescoço para dar uma espiadinha nas mulheres que passam por eles, porque não olhariam para os seios delas.
Se quiserem praticas naturalistas, indico a praia de Abricó, reduto de naturistas, fica meio longe e escondido para afastar os curiosos. Lá todos ficam completamente nus, mas vale lembrar que lá existem certas regras de conduta! Ou tirar a parte de baixo do biquini já é demais para algumas dessas mulheres que desejam fazer topless? Será que elas são conservadoras ou caretas demais?

É proibido fazer topless?
Muitas coisas são proibidas neste país e poucos sabem. Inclusive o vereador Elton Babú, PT-RJ, que se surpreendeu ao descobrir, após o episódio com a atriz e antes do evento deste sábado, que a prática do topless não é permitida na cidade maravilhosa e disse o seguinte:
- Nem sabia que o topless era proibido, fiquei sabendo ao ler o jornal, o que me motivou a apresentar este projeto de lei. Não deveria ser proibido.
Então, para resolver este problema legal, decidiu propor a autorização, através de uma Lei, para permitir a prática do topless nas praias da cidade, desde que seja no trecho entre o calçadão e o mar.
Esta deve ser a primeira proposta de Lei que vejo que pretende revogar uma proibição, o mais normal no Brasil é proibir, mesmo que seja uma proibição estúpida e autoritária, com um viés de boas intenções. Voltando a proposta de Lei, vocês entenderam a ideia né? É permitir o topless, mas restrito a praia! Nada de permitir topless no subúrbio, afinal, lá não tem a bela vista do mar né? Assim, mesmo querendo revogar uma proibição, acabasse por restringir a liberdade das mulheres de fazerem o topless onde bem entenderem. Mas vindo de um vereador do PT, isso não me assusta, afinal a esquerda luta pelos direitos das minorias, desde que não atrapalhem a oportunidade de restringir a liberdade das pessoas.
Uma das justificativas para a proposta do vereador Elton Babú é a seguinte:
Se a mulher expõe os seios para amamentar, por que não fazer o mesmo para tomar sol?
Realmente, percebo que muitas mulheres expõe um dos seios para amamentar os filhos em público, sem nenhum constrangimento. Mas já vi algumas mulheres cobrirem o colo e o filho com um pano na hora de amamentar. Será que estas mulheres preferem preservar sua intimidade ou seriam conservadoras demais ao se cobrirem no ato da amamentação? Será que estas mulheres são contra as mulheres de se exibirem? E se forem contra, não estariam no seu direito de liberdade de expressão e não concordarem com tal ato?
E questionado se o prefeito Eduardo Paes vetaria a Lei, o vereador Elton Babú diz que não acredita nesta possibilidade, dizendo o seguinte:
- Eu acho que ele aprova, pois vai ter o bom senso de entender que o "topless" não é nenhum ato explícito de sexo, nenhuma afronta.
Realmente, mostrar os seios não é um ato explicito de sexo. Mas eu posso andar totalmente pelado pela rua? Eu não vejo problema nenhum em tal ato, pois não é um ato explicito de sexo. E como algumas outras pessoas também não veem problema e desejam essa liberdade de ficarem nus em público. Ou ficar peladão seria liberdade demais? Mas nem entre os praticantes do naturismo isso é consenso. Alguns acham que tem o direito de ficarem nus em qualquer lugar, outros já acham que só podem ficar nus em locais determinados e sinalizados.

Mas de quem é a culpa? Será que o Rio ficou careta?
Algumas pessoas acham que a causa seja válida e tentam argumentar, como é o caso de Denise Limpias.
- Essa causa é justa. Acredito que esteja atrasado, porque no Rio tudo atrasa - justifica Denise - O Brasil é a terra do peito e da bunda. A gente vê meninas sem calcinha dançando funk. Então, por que não podemos mostrar o peito na praia? - indaga.
Sei lá, respeito a opinião da Denise, mas não vejo muita lógica na argumentação não. De repente eu sou conservador demais para entender o que ela quis dizer com isso ai.
Mas então, o que fazer? Libera o topless? Se sim, libera com ou sem restrições de locais? Creio que a cidade seja para todos, e deve haver um entendimento, pelo menos por enquanto, pois liberar tudo em qualquer lugar ainda não é possível, pois o povo não está tão preparado para ter tanta liberdade, talvez um dia cheguemos a este nível onde todos irão se entender e não haverá brigas. Mas temo estarmos longe e se afastando desse entendimento, ainda mais com a esquerda agindo da forma que age, sequestrando temas liberais/libertários, como a liberdade individual, e a usando para criar conflito entre as pessoas. Ou seja, o que a esquerda menos deseja é o entendimento entre as partes, pois se este ocorrer, acaba a minoria que eles tanto desejam proteger. Por isso que fazem essa guerra utilizando o feminismo* e as feministas*, para gerar discordância sem debate, e em alguns casos a imposição de opiniões sobre terceiros. O que falariam as feministas sobre uma mulher que discorde da prática do topless? As feministas buscariam meios de desqualificar a opinião das que discordam? Falariam que por, possivelmente, serem religiosas estas são influenciadas e não deveriam ser ouvidas? Ou todo cidadão tem direito de se expressar?
Só sei que no fim, muitas podem comemorar a aprovação da Lei proposta pelo vereador Elton Babú, como sendo uma conquista, sem perceber que esta foi uma autorização de liberdade restrita. Sem notarem que continuam dependendo de uma autorização do Estado para fazerem o que quiserem. Sem compreender o que é a verdadeira liberdade individual, e que mesmo que tenhamos certos desejos, devemos buscar respeitar o próximo e entender que nem sempre é conveniente fazermos o que queremos.

* - Estes são outros termos que não gosto e evito utilizar, pois como já falei, todos os seres humanos são iguais, independente do sexo. E questões sobre machismo/feminismo muitas vezes envolvem conceitos e entendimentos culturais diferentes. Talvez quando abordar o feminismo em um texto próprio seja mais fácil de explicar minhas ideias sobre este tema.

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