segunda-feira, 20 de abril de 2020

A pandemia e as crises - parte 3

Neste momento o mundo passa por diversas transformações, nem todas agradáveis e que sejam fáceis de lidar, principalmente com algumas consequências que ocorrem por algumas dessas decisões. Dito isto, vamos a algumas considerações.
P.S.: neste texto irei tratar sobre aspectos trabalhistas e econômicos, com enfoque nos trabalhadores, causados pela pandemia de coronavírus (SARS-CoV-2) que provoca a COVID-19.

Trabalho na pandemia

A primeira coisa que precisamos compreender é sobre a diferença entre trabalho essencial e trabalho não essencial, por mais que algumas pessoas tentem argumentar que o trabalho é essencial para que tenha renda e consigam se manter durante a pandemia, esses argumentos acabam por serem irrelevantes diante os possíveis problemas causados se tudo estivesse funcionando normalmente como muitos querem.
Trabalho essencial é aquele que garante as mínimas condições de sobrevivência da população, pode parecer meio cruel. Mas vou tentar explicar de uma forma bem didática para que não fiquem com dúvidas.
O que uma pessoas precisa para se manter? Alimentos? Ninguém sobrevive sem alimentos, então já temos o básico e podemos entender que a cadeia produtiva de alimentos é parte do trabalho essencial. Aqui temos a cadeia produtiva mais extensa, pois temos desde os trabalhadores do agronegócio (agricultores, pecuaristas, entre outros), passando pelos trabalhadores da cadeia logística (caminhoneiros, estoquistas, operadores de empilhadeira e vários outros), funcionários das fábricas de processamento de alimentos (quando os alimentos são processados, como boa parte do que comemos) até os trabalhadores dos supermercados (estoquistas, caixas, fiscais, gerentes, pessoal de limpeza e outros). Se incluir os restaurantes que estão trabalhando com o serviço de entrega, temos mais alguns trabalhadores nessa área. Reparem quantas pessoas são necessárias só para termos alimentos em nossas mesas.
Aí temos que ter água e luz para ter uma vida com um certo grau de conforto né? Aqui temos vários trabalhadores que atuam, basicamente, na "produção", distribuição e manutenção desses serviços. E nesse sentido também temos os trabalhadores do setor de telecomunicações que são responsáveis pelos sistemas que nos mantem conectados e informados. E para produzir a informação precisamos dos jornalistas.
Agora vamos para outras áreas também essenciais? Segurança pública, administração pública, limpeza urbana, assistência de saúde e mais alguns setores - creio que não precise explicar o que cada um dos trabalhadores desses setores fazem né? Mas estão notando quantas pessoas já devem estar trabalhando só para manter uma certa normalidade?
Se essas pessoas já tem que sair de casa, para que outras pessoas deveriam ir até uma loja que provavelmente não terá clientes boa parte do dia? O dono da loja quer ter gastos e não ter nenhuma venda? Pois creio que muitos estejam tentando economizar o possível para conseguir manter a alimentação e algumas contas - água e luz.

Cultura de segurança

Uma das minhas formações é em Engenharia de Segurança do Trabalho, que envolve lidar questões sobre saúde e segurança do trabalho e parte das atividades é criar uma cultura de segurança para a prevenção contra doenças e acidentes.
Uma coisa que não podemos confundir é as medidas necessárias para a segurança dos trabalhadores com medidas de saúde pública. Elas acabam por ter enfoques um pouco diferentes, mesmo que essas sejam voltadas para a proteção das pessoas, sendo que para os trabalhadores temos a legislação trabalhista - com destaque as Normas Regulamentadoras (NR). A seguir vou explicar alguns pontos importantes sobre a segurança dos trabalhadores.
Como estamos vendo, parte dos trabalhadores envolvidos com trabalhos essenciais estão expostos ao contágio e a ficar doentes, por isso que estes devem utilizar Equipamentos de Proteção Individual (EPI). E estes são definidos pelos profissionais da Medicina e/ou Segurança do Trabalho que formam os Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT). Vou explicar duas questões básicas para entenderem que não é simples comprar qualquer máscara e mandar o trabalhador usar.
A primeira atitude do profissional do SESMT responsável por definir o EPI é entender qual é o risco envolvido. Neste caso da pandemia temos um risco biológico - um vírus -, que demanda um tipo de máscara específico. Não adianta fornecer qualquer máscara, pois nem toda máscara protegerá o trabalhador contra o vírus. Neste caso é necessário usar uma N95, que é uma PFF2, e não deve possuir válvula devido ao agente patogênico.
A segunda atitude do profissional é fornecer o treinamento para que o trabalhador saiba utilizar a máscara, ou seja, como colocar, higienizar e conservar a máscara. Aqui temos outro ponto importante a ser destacado, que é preciso fazer um teste de vedação, é uma questão técnica, mas serve para comprovar que o trabalhador aprendeu a colocar a máscara e que está funcionando como deve - curiosidade: os homens são obrigados a fazer a barba para utilizar a máscara, pois os pelos da barba atrapalham a vedação. Outro destaque necessário é que a utilização da máscara por tempo prolongado pode provocar feridas na face do trabalhador - se tiver curiosidade, procure por fotos dos profissionais de saúde após o uso da máscara.
Outro ponto que preciso destacar é que dependendo da máscara ela é descartável e assim o consumo de máscaras é elevadíssimo, e a capacidade de produção de máscaras é insuficiente para atender a demanda mundial. Pode-se até adaptar em alguns casos, como no caso dos profissionais de saúde que poderia utilizar a N95 e uma máscara cirúrgica por cima para que a N95 não seja contaminada, mas não será possível utilizar a N95 por muito tempo, pois ela deteriora com o uso e perde a eficiência, tendo que ser descartada.
Percebam que até agora só comentei parte sobre a questão de saúde e segurança do trabalho. O outro ponto é a dificuldade de conscientizar os trabalhadores de utilizar os EPI, mas como a maioria das pessoas está com medo de ficar doente, acabam por não reclamar do uso, só que não tem como proteger todos da forma adequada e começa as gambiarras, como a utilização de máscaras não apropriadas e outras medidas, como tentar utilizar anteparos para isolar o trabalhador dos clientes nos mercados.
E outro aspecto é que a legislação trabalhista, através das NR, determina alguns critérios e nem todas as empresas tem a obrigação de constituir os SESMT, ou seja, muitos empresários não tem a menor noção de quais atitudes tomar diante a pandemia e isso só pode piorar a exposição dos trabalhadores ao contágio do coronavírus e assim ficarem doentes pela COVID-19.

Reflexos econômicos para os trabalhadores

Bem, como vimos os trabalhadores essenciais ainda tem a possibilidade de manter a renda, mas correndo o risco de contágio - sem contar que esses trabalhadores deveriam receber adicional de insalubridade durante todo o período de pandemia, isso não compensa os gastos de ficarem doentes, mas é a forma da legislação trabalhista em compensar a exposição ao risco de contrair COVID-19. Essa mesma legislação estabelece que o fim da compensação por meio do adicional ocorrerá com a tomada das medidas necessárias para a eliminação ou neutralização do risco, mas se o empregador não fornece os EPI corretos, não tem como negar o adicional.
Em relação aos trabalhadores não essenciais, estes perderam a capacidade de obter renda de uma hora para a outra e muitos não tem o que fazer. Aqui temos uma massa gigantesca de pessoas, desde os trabalhadores informais aos profissionais liberais que prestam serviços, chegando até aos empresários - dos micros aos grandes, pois o que determina a paralisação do negócio é o tipo de serviço e/ou produto que produzem.
No grupo dos trabalhadores informais temos diversas pessoas que dependem diretamente do serviço a ser prestado para conseguir dinheiro, alguns trabalhadores liberais já tem uma certa flexibilidade e podem vender o serviço que será prestado após o término do isolamento e outros desse mesmo grupo se encontram na situação dos informais porque a prestação do serviço é imediata e não tem como ser vendida para uso posterior, também temos trabalhadores formais que dependem de vender produtos que não são tão essenciais para o momento e não tem como garantir seu sustento devido a não autorização do funcionamento do estabelecimento.
Cabe ressaltar que alguns trabalhadores formais de setores não essenciais e até mesmo alguns dos setores essenciais, mas que não precisam se expor ao risco de contágio, estão em trabalho domiciliar (home office) e estes mantiveram sua renda. Mas alguns dos setores não essenciais terão problemas para manter o pagamento dos salários devido a inadimplência, pois como comentei, boa parte das pessoas estão focando em pagar pela alimentação e pelos serviços básicos.
E notem que estou falando dos trabalhadores e não dos desempregados e desalentados - que são as pessoas que desistiram de procurar emprego. A situação para as pessoas desses dois grupo pode ser ainda pior devido a crise econômica que ocorre durante e que ocorrerá após a pandemia.

Vou comentar sobre os problemas econômicos gerados pela pandemia na próxima parte, pois é algo que merce um texto próprio para desenvolver o assunto. Com isso volto ao exemplo do lojista - e outros empresários - e explicarei alguns aspectos sobre a situação deste. Além de abordar algumas outras questões como o Produto Interno Bruto (PIB) e outras mais macro, como comércio entre os países.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

A pandemia e as crises - parte 2

Neste momento o mundo passa por diversas transformações, nem todas agradáveis e que sejam fáceis de lidar, principalmente com algumas consequências que ocorrem por algumas dessas decisões. Dito isto, vamos a algumas considerações.
P.S.: neste texto irei tratar sobre as ações de prevenção contra o coronavírus e o sistema de saúde, ressalto que não é um artigo científico, são basicamente informações que colhi de diversas fontes e agrupei, além de conter alguns comentários pessoais. Caso queira informações mais precisas, busque os artigos científicos que estão sendo disponibilizados pela comunidade científica e os órgãos oficiais - Ministério da Saúde e Secretarias de Saúde - estaduais e/ou municipais.
P.S.2: Como estou escrevendo esse texto após vários dias do início da pandemia no Brasil, pode parecer que é uma previsão sobre o passado - o que não deixa de ser correto -, mas pode servir como aprendizado para futuras pandemias.

A prevenção e o sistema de saúde

A prevenção sempre é a melhor medida, digo isso porque parte da minha formação é em Engenharia de Segurança do Trabalho e aprendi que atuando na prevenção pode-se reduzir os danos e até se preparar para o pior por conhecer os possíveis cenários.
Ao tomar conhecimento da situação de calamidade na China, o governo federal deveria ter iniciado os estudos para coordenar a atuação de combate a pandemia, mas aparentemente não foi essa a atitude. Neste caso temos duas questões, a burocracia que atrapalha medidas preventivas devido a legislação que exige que certos critérios sejam atingidos para decretar os estados de emergência e de calamidade pública e a atuação da OMS, que demorou a reconhecer o problema - não vou entrar no mérito desta demora porque isso demanda um texto próprio sobre relações internacionais e o funcionamento desses órgãos mundiais.
O governo deveria ter tomado medidas preventivas simples como supervisionar quem chegava dos países com casos confirmados, outra medida simples seria organizar listas dos passageiros e registrar se alguém estava com algum sintoma conhecido da COVID-19, até mesmo para monitoramento destas pessoas, mas parece que demoraram a efetivar essas medidas, pois existem relatos de que passageiros vindo de outros países não eram questionados e tão pouco mediam a temperatura para saber se já existia algum doente entre os passageiros que chegavam, e pelos relatos esse descuido ainda ocorreu com o contágio comunitário, isto é, com transmissão dentro do país - é importante destacar que essa medida poderia prevenir casos advindos de outros países, ou seja, que os doentes vindo de fora se tornassem foco de novas contaminações em outras cidades do país.
Como não ocorreu esse controle, os primeiros casos de COVID-19 só foram detectados após muito tempo, onde já deveria ter ocorrido o contágio comunitário. Neste caso os doentes que vieram de fora do país passaram o coronavírus para quem teve contato durante aquele período que comentamos no texto anterior. Sendo que ao entrar em contágio comunitário se faz necessário que se tome outras medidas, que nem sempre são tão preventivas, pois algumas já estariam na fase de mitigação.
Ao existir confirmação de contágio comunitário, deve-se preparar para o pior cenário possível, que nesse caso é o colapso do sistema de saúde. Porém, existem medidas que deveriam ser realizadas para diminuir o contágio comunitário e se preparar para o momento crítico.

Isolamento

Uma das medidas possíveis para reduzir o contágio é o isolamento - o que pode ser entendido como uma situação menos rígida do que a quarentena - e ainda voluntária, entendam que o distanciamento social só pode ser realizado corretamente se as pessoas conseguem respeitar as regras de isolamento. Pois para ocorrer o distanciamento social, não se pode agir como se nada estivesse ocorrendo - e como já sabemos, muitos acharam que a situação não era grave e agiram como se o isolamento fosse um feriado prolongado ou férias.
Bem, o isolamento serve para achatar a curva - você já deve ter visto algum gráfico sobre isso -, mas está medida não acaba com o contágio porque as pessoas ainda tem liberdade para se movimentarem pela cidade.
Outro ponto sobre o isolamento é que este deveria ser utilizado para a preparação de hospitais de campanha - na verdade esses já deveriam ser previstos com a confirmação dos primeiros casos "importados", mas vamos partir do princípio que isso poderia provocar pânico e histeria devido ao desconhecimento das pessoas e o medo que tal medida poderia causar e atrasar a tomada dessa decisão para a confirmação do contágio comunitário -, que deveriam ser usados para os casos leves, ou seja, aqui entra outro ponto muito importante, que é a identificação dos doentes - vou falar sobre isso a frente - e como tratá-los.
Assim, estas estruturas provisórias deveriam servir para abrigar as pessoas que estão transmitindo a doença - e essa transmissão ocorre porque essas pessoas não apresentam uma forma que dificulte de continuar suas atividades - e monitorar a recuperação destas. Mas não foi o caso em vários lugares do mundo, até porque decidiram que casos leves poderiam ser menos prioritários, ignorando que a COVID-19 tem uma alta taxa de contágio e que por volta de 80% dos casos são assintomáticos ou leves - resumindo, esses doentes podem ter contaminando outras pessoas devido a falta de uma medida restritiva de prevenção, veja bem, não estou falando que a culpa é da pessoa, mas que é um erro de tratamento da situação, até porque a probabilidade de ter mais casos graves aumenta proporcionalmente com o número de doentes.

Testes em massa

O teste é uma das formas de confirmar se a pessoa está doente ou não. Contudo temos alguns pontos que devem ser destacados e bem compreendidos.
O primeiro ponto é a taxa de acerto, que varia de acordo com o tipo de teste. Para termos um resultado com uma taxa de acerto satisfatória temos um período em que a pessoa será identificada como caso suspeito, e nesse meio tempo a pessoa pode ficar sem nenhum tratamento - na verdade as pessoas com sintomas leves nem chegaram a ser testadas direito no Brasil, optou-se por testar só os casos moderados e graves que necessitavam de hospitalização, sendo que este foi outro erro, pois se considerarmos que os casos assintomáticos e leves representam 80% dos casos, estas pessoas doentes continuam contaminando outras.
Em algumas cidades os resultados dos testes estão demorando de 7 a 10 dias para serem emitidos, e se lembrarmos que as pessoas só procuram atendimento quando apresentam sintomas, o resultado desta demora acaba por ser a mera confirmação do óbvio para pacientes que tiveram agravamento da doença.
Vejam que este problema com os testes ocorre por alguns motivos, o primeiro é a baixa capacidade dos laboratórios públicos e privados - creio que poucos países estavam realmente preparados para realizar tantos testes em tão pouco tempo e que está capacidade vai diminuindo com o crescente número de testes até que se esgota a possibilidade de testes em massa e passasse a restringir quem será testado, também vale lembrar que isso não é algo passível de mudança rápida, e que para sanar essa dificuldade utiliza-se o teste rápido, falarei dele daqui a pouco -, o segundo problema é a quantidade de kits de testes, que acaba por interferir na decisão de quem será testado - você já deve ter reparado que sou a favor de testes em massa para que os casos assintomáticos e leves fossem tratados, mas infelizmente o Brasil não é um país muito sério, basta ver que em pleno ano de 2020 ainda temos problemas sérios com saneamento básico!
Bem, como comentei, existem os testes rápidos, porém alguns destes testes estão apresentando altas taxas de falso negativo, ou seja, acabam por não identificar os casos de pessoas doentes e se tornam um grande desperdício de recursos - tempo de resposta e tratamento, profissionais que estão ocupados com esses testes e dinheiro.
Portanto, este ponto acaba por interferir em várias outras questões da situação.
Como dito, estou escrevendo esse texto vários dias após o início do contágio comunitário e alguns protocolos para diagnóstico da COVID-19 já estão sendo utilizados por alguns hospitais e o teste só serve para confirmar a doença. Uma das medidas é a realização de uma tomografia computadorizada  com algumas especificações para verificar o comprometimento da saúde causado pela COVID-19 e o início de medicação - não vou entrar nesse mérito porque é algo que cabe aos médicos decidirem, mas talvez escreva,  a parte sobre isso para evitar que este se torne um livro, um texto opinativo sobre alguns pontos, principalmente sobre criar esperança sobre uma só medicação e a necessidade de se encontrar a cura a qualquer custo.

Quarentena

Vou comentar rapidamente sobre essa medida, pois é algo bem mais complexo, mas entenda que o isolamento é uma recomendação de não sair de casa, enquanto que a quarentena é basicamente a proibição das pessoas saírem de suas casas e que para saírem devem ter um motivo e uma autorização das autoridades, e que quem descumprir essa medida pode ser multado e até preso.

Sistema de saúde

Bem, para finalizar esse texto, vamos abordar alguns pontos sobre o sistema de saúde. Basicamente os pontos levantados a seguir poderiam ser resumidos em capacidade de atendimento, o que é crucial em uma pandemia.
O primeiro ponto e mais óbvio é em relação ao número de leitos normais e leitos de UTI preparados e destinados para atender os doentes com COVID-19. E é evidente que o Brasil não tem capacidade de atender todos os doentes da COVID-19, normalmente o SUS já tem déficit de leitos e isso não melhora com uma pandemia, por isso estão montando os hospitais de campanha para tentar ter uma capacidade de atendimento temporária para suprir a alta demanda - novamente, estas estruturas temporárias deveriam servir para isolar casos leves e assim ter ajudado a diminuir o contágio comunitário, não foi o caso e na minha opinião foi um erro de estratégia, mas em algum momento estas estruturas provisórias acabariam sendo utilizadas para atender casos mais graves com a elevação do números de doentes graves e a falta de leitos para estes pacientes na estrutura hospitalar adequada.
O segundo ponto é a falta de equipamentos e suprimentos. O primeiro destaque a ser feito é que já se sabe da necessidade da utilização de respiradores para os casos mais graves. O segundo destaque é que a falta de suprimentos, principalmente de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), acaba por interferir no atendimento. E posso dizer que a falta de EPI pode interferir muito no próximo ponto.
O terceiro ponto é o número de profissionais da área de saúde. Assim como o primeiro, também é de amplo conhecimento o déficit de profissionais em diversos lugares do Brasil - não vou entrar no mérito desse déficit até porque é outro assunto complexo e merece um texto próprio. Porém, como estou escrevendo esse texto muito tempo depois do início, o governo já tomou uma medida sobre isso, o governo convocou diversas classes profissionais que tenham conhecimentos multidisciplinar com a área de saúde. E estes profissionais receberão capacitação e poderão ser convocados para realizar o atendimento dos doentes, mas mesmo assim, talvez faltem profissionais para atender em algumas cidades.
E como disse, a falta de EPI pode interferir no número de profissionais na linha de frente, pois sem os devidos EPI e cuidados, muitos profissionais poderão ser contaminados e deixar de atuarem por se tornarem pacientes - isso ocorreu na Itália e deve ter ocorrido em outros países, e provavelmente ocorrerá no Brasil, mesmo com o governo convocando outros profissionais para auxiliar no tratamento dos doentes.

Bem, espero ter passado os principais pontos sobre prevenção e o sistema de saúde na pandemia e que estes possam colaborar com o entendimento das pessoa para que compreendam a importância do isolamento, ou seja, de permanecerem o maior tempo possível em suas casa para que se evite um caos maior.
Talvez, como cheguei a comentar ao longo desse texto, possa voltar a escrever sobre alguns pontos em textos futuros, mas no próximo texto irei tratar sobre aspectos trabalhistas e econômicos, principalmente para os trabalhadores, pois o cenário e a crise econômica merecem um texto próprio.

Atualização!
Escrevi um post na página do blog no Facebook explicando a questão dos dois gráficos que mostra a questão do achatamento da curva de contágio - com alguns comentários sobre outras situações relacionadas a pandemia -, se quiser ler o texto é só clicar aqui que você será direcionado ao post.

sexta-feira, 27 de março de 2020

A pandemia e as crises - parte 1

Neste momento o mundo passa por diversas transformações, nem todas agradáveis e que sejam fáceis de lidar, principalmente com algumas consequências que ocorrem por algumas dessas decisões. Dito isto, vamos a algumas considerações.
P.S.: neste texto irei tratar sobre o coronavírus e algumas questões sobre a doença, o texto não é um artigo científico, são basicamente informações que colhi de diversas fontes e agrupei para escrever o texto. Caso queira informações mais precisas, busque os artigos científicos que estão sendo disponibilizados pela comunidade científica.

O coronavírus e a COVID-19

O que conhecemos hoje sobre o SARS-CoV-2 ou mais popularmente conhecido como coronavírus? (É importante destacar que COVID-19 é o nome da doença causada por esse coronavírus)
Antes de falarmos do atual vírus, vamos a uma pequena retrospectiva. O primeiro coronavírus que causa a Síndrome Respiratória Aguda Grave (na sigla em inglês - SARS) foi identificado em 2002, ou seja, a uns 18 anos atrás.
O SARS-CoV-2 é altamente contagioso, seus sintomas mais leves são comparados a uma gripe normal, mas que desencadeia complicações em pessoas que tem problemas de saúde. Assim, podemos tirar uma conclusão sobre os doentes com COVID-19?
Tem pessoas falando que só idosos ficam doentes e morrem, mas não é bem isso! Pessoas com duas ou mais doenças, ou até mesmo só com uma doença grave, têm uma tendência a desencadear as versões moderada e grave da COVID-19, que levam a hospitalização. A confusão ocorre porque com a idade o grupo de pessoas formado pelos idosos geralmente tem mais de um problema de saúde, o que agrava a situação em relação a COVID-19.
Desta forma, ser jovem não isenta de contagio pelo coronavírus e tão pouco de precisar de hospitalização, fazendo com que a questão seja quão saudáveis são esses jovens e como os jovens que possuem problemas de saúde podem desenvolver as versões moderada e grave da COVID-19.
Como dito, esse coronavírus possui uma alta taxa de contágio, o que impede a realização da proposta de algumas pessoas em fazer uma "imunização de manada" porque força o sistema de saúde que entra em colapso, ou seja, não é uma questão de ter ou não um colapso, mas de quando este vai ocorre se outras medidas não forem tomadas.
Para entender o erro dessa proposta, temos que entender como o coronavírus se propaga e como a doença se desenvolve na pessoa.
O contágio ocorre em cadeia, uma pessoa doente pode propagar a doença para quem tem contato com alguma secreção ou com a superfície contaminada. Alguns artigos científicos falam que um doente pode contaminar de 2,3 pessoas, mas para simplificar vamos usar de 2 a 3 pessoas - para efeito de comparação, a influenza (gripe comum) tem uma taxa de contágio de 1,3 pessoa.
Algumas análises falam que o coronavírus consegue permanecer ativo por até 72 horas, dependendo da superfície. Assim, uma superfície contaminada hoje, pode vir a contaminar uma pessoa daqui até 3 dias se esta não for limpa durante esse período. Por isso que uma das recomendações mais importante é higienização das mãos, pois é por meio delas que acaba ocorrendo a contaminação, devido a pessoa tocar uma superfície contaminada e depois encostar alguma mucosa com as mãos.
Cabe destacar que higienizar as mãos é lavar as mãos com água e sabão, o que já é suficiente, e que a higienização com álcool em gel deve ser feita na impossibilidade de lavar as mãos, isto é, quando a pessoa está na rua. E se a outra recomendação é o distanciamento social, com o isolamento na residência e que só saia para eventuais compras de alimentos e remédios, não é necessário fazer um grande estoque de álcool em gel se você pode ficar em casa. Este deve ser um recurso para quem necessita sair de casa.
Bem, agora vamos entender como a doença ocorre de um modo bem resumido (se alguém quiser se aprofundar, é só pegar artigos científicos sérios). Entre o 1º dia - o dia de contaminação - e até mais ou menos o 4º ou 5º, o vírus permanece se multiplicando no organismo da pessoa. Entre o 4º e 6º dia pode ter o início de contágio para outras pessoas. Pelo 6º dia começam a aparecer os primeiros sintomas e normalmente a pessoa vai buscar alguma assistência médica. Mas o doente só vai apresentar problemas mais graves pelo 14º dia, o que geralmente demandará hospitalização, ou seja, até este dia a pessoa poderia ficar em casa se tiver os sintomas mais leves e não apresentar agravamento da doença. E dependendo de alguns fatores, como idade, condição de saúde, doenças pré-existentes e tal, o doente pode ser internado antes ou depois do 14º dia.
Até agora temos um percentual aproximado de 80% dos doentes com COVID-19 com sintomas leves a moderados - com até uma leve pneumonia - e uns 20% com problemas severos a críticos, que necessitam de hospitalização, chegando a precisar de ser entubado devido a dificuldade em respirar e/ou internação na UTI - por volta de uns 5% dos doentes -, demandando maiores cuidados.
O percentual total de mortos fica em torno de uns 2% a 3% dos doentes, parece pouco assim por considerar todos os casos. Mas se pegarmos os casos de doentes por faixa etária, temos algo em torno de uns 15% de mortos nas faixas etárias mais altas. E como comentei anteriormente, se a pessoa tiver problemas de saúde, estes acabam por aumentar as chances da pessoa vir a falecer pelos danos causados ou agravados pela COVID-19.

No próximo texto irei tratar sobre as formas de prevenção e o sistema de saúde.