terça-feira, 29 de abril de 2014

São todos macacos de imitação ou papagaios de pirata, podem escolher!

A essa hora você já deve conhecer o motivo do surgimento da hashtag #SomosTodosMacacos. Bem, se não conhece, vou fazer um breve resumo para que entenda o post.
No jogo deste domingo entre Villarreal e Barcelona, válido pelo Campeonato Espanhol, um torcedor* resolveu tacar uma banana em campo, antes do Daniel Alves, jogador brasileiro do Barcelona, bater um escanteio, e este ato foi registrado pelo árbitro da partida na súmula. Daniel Alves resolveu a questão de uma forma louvável, foi lá e comeu a banana, não dando nenhuma bola para o ato ofensivo. O ato do Daniel Alves pode ser visto no vídeo abaixo.
E o que aconteceu depois? O Neymar, também jogador do Barcelona, que estava contundido, resolveu postar uma foto, com seu filho, como uma banana e com a hashtag #SomosTodosMacacos e seus equivalentes em outros idiomas. Com isso, começou uma enxurrada de fotos de jogadores, famosos e anônimos, comendo ou apenas segurando uma banana, e utilizando a mesma hashtag, como forma de apoio ao Daniel Alves.
Foto do Neymar com a banana, em seu perfil no Instagram.
Fonte: Reprodução/Instagram/neymarjr.
No Brasil, a presidente Dilma, por meio de seu Twitter oficial, aproveitou para mostrar apoio ao Daniel Alves, promover a Copa do Mundo e afirma que a campanha contra o racismo será um dos temas durante o evento.
Tweets do perfil da presidente Dilma sobre o ocorrido.
Fonte: Reprodução/Twitter/dilmabr.
Mas seria algo até aceitável, caso tal campanha não tivesse sido criada por uma agência de publicidade e que um determinado famoso já tivesse camisa prontas, em estoque, para a venda. No final, são todos otários!

Se vocês são macacos de imitação, o problema é de vocês!
Me considero uma pessoa que consegue pensar por conta própria, que consegue ir do micro ao macro, ou o inverso, sobre um assunto. Algumas vezes demoro um certo tempo para formar uma opinião, exatamente por buscar analisar vários aspectos. Em outros casos, já tenho certo posicionamento e fica mais fácil de me expressar. E foi esse o caso!
Não me impressionou a velocidade em que a hashtag subiu em popularidade e uso. O que me impressionou foi a demora na desmoralização da mesma. Se bem me lembro, só fui ver piadas zuando a hashtag e a campanha no dia seguinte, ou seja, hoje. Segue um exemplo abaixo.
Zuaeira com a banana ou com os macacos de imitação?
Fonte: Reprodução/Facebook/Bode Gaiato.
A imagem representa bem o comportamento médio do povo brasileiro. Aquele que segue tendências sem nenhuma reflexão sobre o fato, que acha que se um famoso lançou uma campanha, esta deve ser boa e deve segui-la sem muita preocupação. E se reparar bem, é esse mesmo ser que fala sobre a tal manipulação da mídia golpista que ajudará os militares a dar o golpe e implementar uma ditadura no país. Mas ele fala isso porque foi condicionado a ter tal atitude. Não adianta reclamar deles, pois boa parte já não tem recuperação, o máximo que pode acontecer é inverter de lado e a se posicionar contrário a certas coisas e atitudes até então defendidas por estes.

Preconceito seletivo, mais comum do que se imagina
Quem se lembra do caso do jogador Tinga, do Cruzeiro, em um jogo no Peru pela Libertadores. Foi mais um caso de tentativas de ofensa com base em racismo. Vi muitos jornalistas falando que não entenderam a atitude dos torcedores peruanos, pois estes sofrem com o preconceito racista em outras partes do mundo. Estes jornalistas só se esqueceram que certos atos não são acompanhados de coerência. Se perceberem que emitir barulhos similares a um macaco desestabiliza o jogador, eles irão fazer o barulho toda vez que o jogador tocar na bola.
Lembro que teve um debate sobre racismo e preconceito. Então, torcedores do Atlético Mineiro lembraram que torcedores do Cruzeiro ofendem o jogador Richarlyson, com base em sua suposta homoafetividade, mas que não é a realidade. E esse assunto me lembra o vídeo abaixo, do canal Galo Frito.
Aproveito para deixar alguns questionamentos: Até que ponto vai o humor? Onde o humor vira ofensa? Quando a ofensa vira preconceito? E para encerrar este trecho, fica o link para a Escala de Allport.

Era uma questão de tempo até tacarem uma banana em campo
Na época do debate sobre o racismo contra o Tinga, apareceram muitas reportagens comentando casos semelhantes. Em alguns, torcedores tacavam bananas em direção de certos jogadores em campo. Alguns desses casos ocorreram com o jogador Roberto Carlos, lateral esquerdo, que já foi vítima de tais atos em vários países. E o que ele fez em uma dessas situações? Ele se retirou de campo indignado com a tentativa de ofensa. Ou seja, os torcedores conseguiram atingir o objetivo de desestabilizar o jogador alvo. Se tal ato irá ser punido ou não, já é outra questão.
Então bastava aos idealizadores da campanha, lançada por meio do Neymar, esperar acontecer um ato desses com um jogador brasileiro e correr para o abraço.
Uma leve zuada com a campanha!
Fonte: Reprodução/Facebook/Liberalismo da Zoeira.

Quem paga a conta pelos atos dos imbecis?
A esquerda adora relativizar a culpa de alguns atos, praticamente coletivizando a culpa. Assim, a culpa nunca é do indivíduo, mas da sociedade ou de um grupo, a escolha da ideologia. Para a esquerda, só será útil culpar apenas uma pessoa, quando esta estiver atrapalhando sua imagem ou seu caminho para o poder.
No caso do Daniel Alves, o culpado era um torcedor, que foi devidamente identificado e banido, não podendo entrar no estádio El Madrigal, do Villarreal. Desta forma, entendo que o clube não mereça nenhuma punição.
Outro caso que chamou a atenção esses dias, foi sobre os comentários racistas do dono da franquia do time de basquete Los Angeles Clippers, Donald Sterling. A National Basketball Association (NBA), resolveu bani-lo, de modo a proibi-lo de ter qualquer contato com a NBA, seja por meio do time ou de outra forma. Por funcionar por um sistema de franquias, podem ocorrer alguns problemas, mas a NBA já se posicionou a favor de buscar a Justiça para cortar qualquer vínculo com este indivíduo. Desta forma, a NBA busca punir o indivíduo, e não o time.
Considerando que a venda do clube só será forçada se 23 donos, de 30 times/franquias, votarem a favor desta atitude. Com a venda do time ele ainda irá ganhar dinheiro, pois desde a compra, o time se valorizou muito. Porém, é melhor ele ter o dinheiro com a venda do que permanecer como dono de um time e criar um mau estar maior na liga.
Mas e no Brasil? O que acontece? Praticamente nada! Quando ocorrem casos de briga entre torcidas, e quando os torcedores envolvidos na briga são identificados, eles ficam presos por alguns dias, quando são presos. Ai entra a morosidade da Justiça brasileira e tudo vai se arrastando. Enquanto isso, os brigões voltam aos estados e se envolvem em mais casos de brigas.
Assim, pode-se dizer que o Brasil está muito atrasado em praticamente tudo, desde a identificação até a punição efetiva dos envolvidos. E não adianta fazer campanha com hashtags bonitinhas não, pois na semana seguinte já tem algum fato para mudar o foco.

E os argentinos, poderão chamar os brasileiros de macaquitos?
Então, o título dessa parte do texto já quebra essa campanha né? Afinal, se um argentino chamar um brasileiro de macaquito, vão se ofender né? Outra coisa, a visão do Brasil e do brasileiro ainda tem seu estereótipos pelo mundo, e fazer campanha se igualando a macacos não ajudam muito!
Tirinha sobre estereotipização do brasileiro.
Fonte: Reprodução/Facebook/Brasilball.
Como sempre alerto, as pessoas devem pensar nas consequências dos atos que praticam. E quem idealizou essa campanha deve ter achado algo muito inteligente, mas se esqueceu de vários aspectos. Agora o estrago já está ai.
Mais uma zueira com a campanha?
Fonte: Reprodução/Facebook/Brasilball.

Recomendação de textos sobre o assunto
Além dos textos linkados acima, os textos abaixo serviram de inspiração para alguns pontos abordados no meu texto, mas recomendo a leitura dos mesmo, pois não quero macaquinhos de imitação falando que copiei alguém. E sem esquecer que, o que escrevi aqui é a minha opinião, se convergem para o mesmo sentido dos textos recomendados, não significa que eu os tenha copiado!
Flertando com o desastre: Somos todos macacos.
#nãosomosbananas
Além destes textos, alguns comentários postados por amigos ou perfis no Facebook também contribuíram para que eu tivesse paciência de escrever esse texto, mas a preguiça me impede de linkar todos aqui. Mas fica o meu agradecimento a todos que se posicionaram, seja os que defenderam a hashtag e a campanha, ou os que se posicionaram contrários a toda essa palhaçada.

* Alguns irão reclamar de chamar tais pessoas de torcedores, mas não vou ficar relativizando termos nesse texto, isso pode ficar para outra oportunidade. Aqui vou me referenciar essas pessoas como torcedores mesmo.